"Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça. Eu assim vos constituí, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos conceda."João 15,16

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sábado, 21 de janeiro de 2012

Dia Mundial da Religião


Dia 21 de janeiro é data de curiosa celebração.  Celebra-se em todo o mundo o Dia Mundial da Religião.  Data ainda pouco conhecida e divulgada na mídia, merece, no entanto uma atenta reflexão.  Porque sem dúvida traz à tona e à baila um tema que - contrariamente às expectativas dos tempos modernos e seculares - vai adquirindo cada vez mais importância, à medida que a humanidade avança novo milênio afora.
Certamente na velha Idade Média não precisaria haver um Dia Mundial da Religião.  O mundo medieval era essencialmente religioso.  A concepção de mundo, de ser humano, de arte, de saber era teocêntrica, ou seja, tinha a Deus por centro.  E Deus é o centro irradiador e convergente em torno ao qual gira e se forma a religião.  É da experiência de Deus, do contato com o Ser Transcendente que nenhuma categoria humana explica que nasce a religião, feita de símbolos, ritos e doutrina.
A modernidade retirou Deus do centro da visão de mundo e da organização do saber, colocando aí o ser humano.  O mundo moderno, à diferença do medieval, passou a ser antropocêntrico e não mais teocêntrico. O homem é a medida de todas as coisas e o saber, o pensar, o sentir desejam ser autônomos e não mais tutelados por uma religião.  A religião passou então a ser um setor da vida e da organização social e científica, não sendo mais o centro a partir do qual se explica a vida.  Alguns mesmo - como Marx, Freud e Nietzche, chamados com razão de "mestres da suspeita" - profetizaram seu fim.
No entanto, essas profecias parece que não se cumprem.  Ao invés de desaparecer e acabar, a religião re-aparece sob novas formas e configurações, mostrando que na verdade nunca se retirou e sempre esteve presente na vida humana.  O fato de haver um Dia Mundial da Religião parece demonstrar essa presença não carente de importância da transcendência e do divino no meio de uma realidade que parecia prescindir dela.
O que celebramos, pois quando celebramos um Dia Mundial da Religião.  Primeiro que tudo é preciso entender o que está no fundo desta celebração. É preciso entender o que é religião.  Religião é a crença na existência de uma força ou forças sobrenaturais, considerada (s) como criadora (s) do Universo, e que como tal deve(m) ser adorada(s) e obedecida(s).  É a manifestação de tal crença por meio de doutrina e ritual próprios, que envolvem, em geral, preceitos éticos.
A palavra religião vem de re-ligar, quer dizer, daquilo que liga, que faz a conexão, a relação do ser humano com aquilo ou Aquele que não é humano, que é transcendente, que é sobrenatural.   Portanto, é a ligação misteriosa do ser humano com algo ou alguém maior do que ele, que ele não controla nem domina e que, no entanto, se mostra, se manifesta, se revela.
Há muitas pessoas que não têm ou pretendem não ter nenhuma religião.  Não acreditam que haja nada além daquilo que nós, humanos, podemos ver e ouvir com nossos olhos e ouvidos e tocar com nossas mãos.  Há muito mais gente, no entanto, que faz a experiência da fé e a expressa em determinada religião.  Acredita que tudo não termina ali onde os sentidos humanos podem ver, ouvir e tocar.  Acredita que há algo, alguém, uma força, uma pessoa, que está acima dos limites humanos, em sua origem e fim como Criador.
Algo ou alguém que anda a seu lado como proximidade salvadora e redentora.  Algo ou alguém que habita em seu interior como força propulsora e santificadora.   Quem crê e vive isso, sob qualquer denominação que seja, é uma pessoa religiosa. Durante muitos séculos, a experiência religiosa no mundo ocidental era quase que exclusivamente configurada pela tradição judaico-cristã.  Ser religioso era sinônimo de ser cristão e em muitos casos, católico.  Hoje, com o processo intenso de migrações e o advento da globalização, o mundo é plurireligioso.  Em todas as latitudes convivem lado a lado pessoas de diferentes tradições religiosas, vivendo o grande desafio de acolher as diferenças uns dos outros e dialogar com essas diferenças, tornando-as potencialidade de vida e harmonia.
No Dia Mundial da Religião celebra-se, é verdade, o equívoco das profecias daqueles que pretendiam estar o mundo presenciando o fim da religião.  Mas, mais ainda, comemora-se a grande chance que a religião, qualquer que ela seja, dá ao ser humano de empenhar sua vida por valores mais altos do que os imediatismos que a sociedade consumista propõe.  Celebra-se e comemora-se a potencialidade do humano de desejar e acolher o divino e, a partir da relação e do diálogo com os outros e com o Outro, procurar construir um mundo onde o amor vença o ódio e a vida seja mais forte que a morte.

Fonte:Maria Clara Lucchetti Bingemer, teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio.

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