"Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça. Eu assim vos constituí, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos conceda."João 15,16

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segunda-feira, 5 de março de 2012

Transfiguração do Senhor.(2º Domingo da Quaresma)]


Em nossa caminhada pascal, subimos a montanha com Jesus e três dos seus discípulos para fazermos a experiência da intimidade com, recebermos a visão de sua glória e o mandamento de escutar a sua palavra. Celebramos a páscoa de Jesus Cristo que acontece em todas as pessoas e grupos que descobrem o rosto transfigurado do Pai nos rostos desfigurados dos pobres e sofredores.

Meu coração disse: Senhor, buscarei a tua face. É tua face, Senhor, que eu procuro, não desvieis de mim o teu rosto! (Sl 27,8-9)

A transfiguração é um desvelar-se provisório do mistério de Jesus para três testemunhas privilegiadas, uma antecipação da ressurreição. Várias imagens desta cena nos reportam à manifestação de Deus a Israel em Êxodo 24,9-18: o monte, os seis dias, os três acompanhantes, o esplendor, a visão, a nuvem.  Elias, profeta, e Moisés, a principal testemunha daquela aliança, agora se tornam testemunhas da glória de Jesus.  É toda uma alusão ao êxodo e à aliança de Deus com o seu povo, firmada agora na pessoa de Jesus.
O relato da transfiguração, situado entre dois anúncios da paixão, quer revelar aos discípulos que o destino do Messias é a glória, mas o caminho é a cruz. Marcos ressalta a incompreensão dos discípulos (v. 6) e lembra que só há um caminho: ouvir e seguir Jesus. O mais importante é o testemunho do Pai, como no batismo do Jordão, focalizando a pessoa de Jesus em quem os discípulos devem crer. Para os discípulos, significa aceitar a cruz, o que implica uma mudança radical no modo de pensar e de viver.
A reação dos discípulos diante da cruz é a reação de qualquer ser humano. Diante da doença, ou do fracasso, ou da morte, nós nos perguntamos: “Por que isso? Se Deus existe, por que o mal”? Cada “porquê” é a expressão de um “porquê” mais profundo sobre o sentido da vida, que se torna explícito em certos momentos da existência quando somos forçados a fazer um julgamento sobre a nossa vida e sobre o mundo.
Deus não quer o sofrimento; em Jesus ele vence a dor e a morte e não nos quer resignados. E no entanto, há um sofrimento que não podemos evitar, aquele que nos faz sair de nós mesmos e nos educa ao amor e à solidariedade. Ter domínio de si, perdoar, ser feliz, apesar de tudo, recomeçar depois de cada fracasso, aceitar nossos próprios limites e os de quem convive conosco, praticar a não-violência em um mundo cheio de violência... Tudo custa, mas sem isso não podemos crescer como pessoas. A partir desta ótica, podemos descobrir o desígnio de Deus até mesmo no sofrimento mais absurdo. O Cristo transfigurado, com roupas resplandecentes, é a resposta ao Cristo despido na cruz. O caminho cristão é um caminho de seguimento de Jesus, de ser filho(a) no Filho, de amar dando a vida.
Na assembléia litúrgica, somos iluminados pela escuta da palavra e pela partilha do pão e somos encorajados a perseverar no caminho de Jesus, aprendendo com ele a obedecer ao desígnio de Deus sobre nós, a descobrir dentro de nós a dignidade de filhas e filhos de Deus, como um segredo, que nos faz amar dando a vida. 

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